Comecemos pelas armaduras, que serão objeto desta e da próxima postagem. E vamos começar pelo final. Por que as armaduras (exceção feita às desportivas recentes, que já citamos) desapareceram?
Por um motivo histórico: o Kung-Fu atual, que conhecemos e praticamos, começou a se consolidar a partir do século XVI. Ele nasce de elementos muitos mais antigos, que se configuraram no declínio da dinastia Ming. Pois foi nesse mesmo período que os europeus (começando pelos portugueses) chegaram à Ásia trazendo arcabuzes e mosquetes (em chinês, 鉤銃, gōu chòng), armas de fogo muito mais sofisticadas que as então usadas pelos próprios chineses (os criadores da pólvora – 火藥, huǒyào –, no século IX).
Quando essas armas ingressaram na China, elas impactaram as armaduras, que se tornaram obsoletas. Se pensarmos que uma armadura chinesa da dinastia Tang, por exemplo, pesava em média 9 kg – entre proteção peitoral, abdominal, cabeça-ombros, braços e mãos, genital e coxas-canelas –, concluímos que não valia a pena mantê-la, até mesmo porque ela era muito cara.
É por isso, inclusive, que, durante a Dinastia Ming, as armaduras eram quase que uma exclusividade dos oficiais graduados e dos nobres. A soldadesca se defendia como podia, usando proteções corporais mais leves ou, então, peças de couro e/ou tecido.
No caso das academias de Kung-Fu do século XXI, há que se considerar, ainda, um aspecto empírico. Não é em muitas que vemos combates reais usando armas tradicionais (não falo, aqui, de rotinas combinadas, mas de combate livre). Naquelas que estão recuperando essas práticas – como a da esgrima chinesa (劍術, jiànshù), por exemplo -, armaduras ou proteções mais específicas estão retornando.